Em busca de uma sociedade ética

Sabe-se que a ausência de condutas éticas é um terreno fértil para proliferar comportamentos autoritários, corruptos e ineficientes.

19/09/2020 19H01

foto: Divulgação

Helton Kramer Lustoza

Procurador do Estado

Professor do Curso de Direito da UNIPAR

www.heltonkramer.com

 

Em vários momentos podemos nos deparar com algumas reflexões sobre as condutas éticas na sociedade, tentando achar a gênese, e o porquê, em tão pouco tempo se agravaram tanto as relações humanas, ampliando os vazios da insegurança dos cidadãos. É possível notar que as pessoas não se sentem mais satisfeitas pelos atos honestos que praticam, fazendo com que a sociedade gire em torno dos poderes econômicos e vantagens políticas. 

O curioso é que o ser humano sempre foi cercado por preceitos e valores, sendo possível verificar que pela adoção do sentimento ético, buscava-se a prática do bem e repulsa ao mal. Contudo, atualmente a sociedade vive em um período em que as referências de se avaliar as condutas humanas se enfraqueceram diante de tantos escândalos de desvios éticos no ambiente político. Observe-se que nas últimas três décadas o discurso político era da construção de um país justo e democrático, no qual os cidadãos teriam ampla participação e confiança na gestão pública. Porém, o que se tem presenciado é um acervo nada desejável de crescimento de condutas antidemocráticas, intolerantes e antissociais, o que dificulta ainda mais a tarefa de se implantar uma conduta ética de forma a valorizar as boas gestões da coisa pública.

Já escrevi em outros artigos, uma citação de Denise Frossard, onde afirmou que “(...) a corrupção leva o cidadão a perder a fé nas suas instituições e quando isto acontece, ele se torna cínico ou rebelde. E isto é um golpe de morte na democracia e na estabilidade que ela significa”. São situações assim que anestesiam a população, impedindo uma reação contra atitudes incompatíveis  com o Estado Democrático de Direito.

Sabe-se que a ausência de condutas éticas é um terreno fértil para proliferar comportamentos autoritários, corruptos e ineficientes. Ainda que nossa sociedade esteja longe de seguir espontaneamente os preceitos morais, não podemos deixar de lado nossa responsabilidade de se preparar para este cenário, confiando em uma mudança pela nova geração.

Grande parte dos estudiosos do assunto defende uma rápida reação, mas admitem que as consequências só surtirão efeitos nas próximas gerações, sendo que uma das medidas inadiáveis seria mudar o sistema educacional brasileiro.

E a cada dia fica mais claro que a falta de disciplinas que ensinem o nosso alunado a pensar os problemas nacionais, aliado à ausência de políticas públicas de base, compromete o sentimento ético da sociedade. É importante que haja uma reflexão sobre tais problemas, seguido de uma reação autenticamente sadia, com o objetivo de corrigir os graves e frequentes desvios que se manifestam no agir das pessoas.

Reflitam comigo: de um modo geral as pessoas constantemente são moldadas facilmente pelas redes sociais, afastando a crítica popular dos assuntos de relevância política e social. O desconhecimento por parte do alunado brasileiro acerca de temas como política, cidadania, economia, direitos e deveres constitucionais, é a principal causa da alienação dos indivíduos. E se o sistema educacional atual não forma cidadãos - na plenitude do conceito -, não se pode esperar um quadro político e social diferente. Inserir tais temáticas na educação de crianças e jovens é um passo primordial para a construção de um espírito de cidadania e formação ética da sociedade brasileira.

Além disso, devemos compreender de que nada adianta se exigir condutas éticas na política e tolerar o seu desvio nas relações privadas. Se a ética não for uma conduta espontânea e contínua nas relações sociais (amizade, relacionamento, família, trabalho, etc), jamais será nas relações políticas e na gestão pública. 

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