Como não ter opinião polarizada

Em linhas gerais, o significado da polarização é a divisão de uma sociedade em dois polos a respeito de um determinado tema.

03/07/2021 10H34

foto: arquivo pessoal

Helton Kramer Lustoza

Procurador do Estado

Professor do Curso de Direito da UNIPAR

www.heltonkramer.com

 

 

 

Uma reportagem recente publicada no jornal El País (https://brasil.elpais.com/) demonstrou que a Ideologia e partidarismo atrapalharam a resposta à expansão do coronavírus. Estudos mostraram que os danos decorrentes da pandemia eram maiores em regiões europeias onde havia mais divisão entre apoiadores e opositores aos seus respectivos Governos.

Frente ao contexto do atual momento em nossa sociedade é comum ouvirmos falar em polarização. Mas, afinal, o que é polarização e qual seus efeitos na democracia?

Em qualquer conversa do cotidiano as pessoas estão tentando se localizar e se alinhar a determinados grupos: favorável ou contrário a vacina; favorável ou contrário ao lockdown; favorável ou contrário ao tratamento precoce da covid, etc. Em linhas gerais, o significado da polarização é a divisão de uma sociedade em dois polos a respeito de um determinado tema. Ocorre que atualmente essa divisão está sendo drasticamente utilizada para formar grupos que não dialogam entre si, que se fecham em suas convicções e não estão dispostos a debater ideias.

O discurso do ódio se tornou mais visível nas redes sociais, criando uma violência simbólica em relação a grupos ou segmentos da sociedade, classificados entre “NÓS” e “ELES”. E as redes sociais só potencializaram este tipo de discurso, alimentando a necessidade de uma luta contra o “inimigo”, desqualificando-o como sujeito participante da vida social.  Seria como se disséssemos que aquilo que não parece comigo, ou aquele que não tem a mesma opinião que a minha, me agride.

O problema do excesso de polarização somada a democratização dos meios de comunicação, resultou na formação de uma espécie de bolhas, através das quais, cada indivíduo acaba tendo contato apenas com opiniões e notícias que reforçam suas ideais. O resultado deste processo será de que cada pessoa apenas acredita nas informações que venham do seu grupo e passa a ter ainda mais certeza de que está certa em seus julgamentos. E as visões e opiniões contrárias se tornam cada vez mais estranhas, absurdas e inaceitáveis.

E mais, não podemos esquecer que atrás da polarização existem muitos grupos e partidos extremistas que se alimentam do descontentamento e da intolerância para ganhar mais apoio popular. E um ambiente polarizado, com predominância da intolerância, reforça e propicia a ascensão de líderes populistas, ou seja, aqueles que têm pouco apreço às normas democráticas e às limitações de poder.

Em meio ao cenário atual, onde a polarização é cada vez maior, faz-se necessário discutir sobre a tolerância, para tentarmos combater o fanatismo com antídotos como aqueles propostos por Amós Oz em seu livro “Como curar um fanático”. Amós foi um escritor com vasta produção literária, que cresceu em Jerusalém, onde vivenciou o conflito entre Israel e Palestina. Diz este autor que o fanatismo começa em casa “com o impulso comum de mudar um parente para o próprio bem dele”, e avalia que este impulso faz do fanático um grande altruísta. Relata o autor que existem aspectos que torna possível identificar um fanático, como a intolerância, o sentimentalismo (em detrimento da razão, o culto a personalidades como líderes políticos, religiosos ou indivíduos carismáticos) e a falta de senso de humor.

Pois bem, uma vez identificado um fanático, como então combatê-lo? O autor nos dá algumas diretrizes, dentre elas defende ser possível combater o fanatismo através do senso de humor, sendo que o “humor é relativismo, (…) humor é a capacidade de perceber que, não importa quão justo você é, e como as pessoas têm sido terrivelmente erradas em relação a você, há um aspecto da vida que é sempre um pouco engraçado”.

Em meio a esta batalha travada em nossa sociedade entre o certo e o errado, podemos seguir o conselho do autor Amós Oz, e, quem sabe buscar encarar a vida com muito mais bom humor. O amadurecimento de um debate democrático exige muito mais do que respostas complexas e bem fundamentadas, uma vez que devemos transformar este tempo de convívio em comunidade como uma fase prazerosa.  

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