A Vida não se Improvisa

Ter a vida bem planejada é importante para atravessar períodos como este que estamos passando com o coronavírus.

10/04/2020 14H05

Luís Irajá Nogueira de Sá Júnior

Advogado no Paraná - Palestrante

Professor do Curso de Direito da UNIPAR 

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Dalai-Lama é o chefe de estado, líder espiritual do Tibete. É o título de uma linhagem de líderes religiosos da escola Gelug do budismo tibetano. Em se tratando de um monge e lama, é reconhecido por todas as escolas do budismo tibetano. O atual Dalai-Lama, Sua Santidade Tenzin Gyatso, é o 14º a liderar o governo tibetano. Iniciou seu reinado com apenas 15 anos de idade. Em 1959, durante a ocupação chinesa do Tibete, Dalai-Lama foi levado para a Índia por motivos de segurança. Dalai, em mongol, significa ‘oceano’, e lama é a palavra tibetana para ‘mestre’, ‘guru’. Logo, é referenciado como “Oceano de Sabedoria”. É sua a frase: “Somente a fé remove a desordem mental e devolve a clareza de espírito”.

Ter a vida bem planejada é importante para atravessar períodos como este que estamos passando com o coronavírus. Ensina Rojas que embora não se possa perder de vista a má sorte e outros imprevistos, é essencial ter um ponto de partida. Para que possamos começar bem, devem estar cobertas as necessidades básicas; do contrário, é preciso cobri-las, e isso exige planejamento básico prático. Acredito que é na família que aprendemos a planejar bem a vida. Existem famílias que tem uma habilidade especial para isso: tudo é traçado com boa cabeça, com ordem, com realismo, mas também com boas doses de rigor pessoal. Outras, ao contrário, deixam tudo à deriva, sem ordem nem conserto, procurando saídas para os problemas que vão aparecendo, mas sem funcionar com base num programa de futuro. Logo, é possível afirmar que a família tem enorme importância na formação da personalidade. 

São vários os fatores que contribuem para o sucesso ou o fracasso da vida. Porém, o desconhecimento próprio e o exagero de certos aspectos negativos é uma boa demonstração desse problema. Conhecer nossas aptidões e limitações é conhecer nossa geografia e fronteiras. Infelizmente, existe um mecanismo de defesa bastante frequente no ser humano, que é olhar em redor e dizer “Está tudo muito ruim!” e mergulhar no mar das ideias negativas, baixando o nível de exigências e projetos. Nessa atitude existe muito lamento e pouco esforço; as ilusões volatilizam-se, a vontade torna-se vaporosa e fomenta-se o desalento e a mediocridade.

Uma tarefa decisiva é tentar captar a riqueza e a complexidade do que significa viver, atravessando o conjunto interminável de coisas, fatos e acontecimentos que cruzam a vida o tempo todo. Porém, vivemos na era da informação rápida e não formativa (redes sociais, whatsapp, etc). Nada interessa tanto como a vida das pessoas famosas. Esse costume afasta o homem do compromisso de enriquecer-se interiormente, a ser mais completo, mais sólido, mais humano. O resultado disso é a consciência de se encontrar perdido, sem saber a que se agarrar, sem ter resposta para tantas interrogações à medida que estas vão surgindo. A desilusão e a perplexidade tomam conta do homem.

Nesses momentos, afirma Rojas, é preciso mais do que nunca saber que a vida não se improvisa, deve ser programada. Isso comporta um planejamento prévio, uma filosofia de vida. São nossos projetos, sustentados por nossas ideias e crenças. Tirar o melhor proveito de nós próprios. Esta é a melhor fórmula de álgebra para fazer funcionar a vida, resolvendo-a, em meio ao vaivém.

O isolamento social imposto pelo vírus covid-19, fez com que a humanidade parasse para refletir acerca da sua trajetória na vida. Sim, em pleno século XXI o mundo parou. O medo/pânico de morrer tomou conta das pessoas. Inegável que vivíamos em tempos de excessos de compromissos (muitos deles fúteis), e, sem tempo para as coisas imprescindíveis. Muitos estão redescobrindo o verdadeiro valor de viver em família. A fé passou a ser professada. A solidariedade aflorada. A caridade ressaltada. O homem voltou a dar importância à dimensão humana.

Dalai-Lama ensina que se existe amor, há também esperança de existirem verdadeiras famílias, verdadeira fraternidade, verdadeira igualdade e verdadeira paz. Se não há mais amor dentro de você, se você continua a ver os outros como inimigos, não importa o conhecimento ou o nível de instrução que você tenha, não importa o progresso material que você alcance, só haverá sofrimento e confusão no cômputo final.

Planejar a vida com ilusão, entusiasmo e amor, desenhá-la, dar-lhe fronteiras, encurtá-la, traçar seus contornos e logo sobre ela caminhar: esse dever ser o objetivo para chegarmos a nós próprios, para sermos indivíduos, pessoas, sujeitos com uma identidade clara, homens não massificados. A outra face da moeda é a do homem que vai chutando, que vive improvisando, trazido e levado pelo bamboleio de tantas circunstâncias inesperadas. Em uma palavra, conduzido feito manada. Qual lado da vida você está?


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