A importância do caminho Ético
A origem da palavra cuidado vem de “cura” e era expressada no contexto de amor e amizade, e, nesse contexto, o cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim, diz Leonardo Boff
foto: reprodução/arquivo
Luís
Irajá Nogueira de Sá Júnior
Advogado
no Paraná - Palestrante
Professor
do Curso de Direito da UNIPAR
Caio
Júlio Higino (64a.C. – 17d.C.), foi filósofo, professor e escritor da Roma
Antiga, discípulo de Alexandre, o polímata e amigo se Sêneca. Denominado em
muitas fontes “o liberto de Augusto”, por seu humilde passado de escravo,
conseguiu, com seu talento e saber, alcançar altos postos, conquistando o
respeito da intelectualidade de sua época. Dentre suas obras, se destaca um
livro sobre fábulas, que contém relatos sobre mitologia e outro sobre
astronomia. É de sua lavra a “Fábula-Mito do Cuidado”, que narramos a seguir:
“Certo
dia, ao atravessar um rio, Cuidado
viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro
e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse
espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que
havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto
Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Originou-se então uma
discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como
árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justo: ‘Você, Júpiter,
deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte
dessa criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de
volta seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou
a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há acalorada
discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil’”.
A origem da palavra cuidado vem de “cura” e era expressada no contexto de amor e amizade, e, nesse contexto, o cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim, diz Leonardo Boff. Por conseguinte, não temos cuidado, mas, somos cuidados desde o nascimento até a morte. Certo é que todos temos o potencial de nos conectarmos com a Energia suprema que habita no universo e no coração humano, e, portanto, capazes de cuidar e/ou melhorar nosso entorno (agir com ética).
Vivemos
tempos difíceis, aqui no Brasil e no mundo todo. O desequilíbrio nas relações
interpessoais se agravou (egoísmo, ganancia, discriminação, intolerância,
preconceito, exclusão, destruição do planeta, obsessão pelo poder, etc.),
relegando o ser humano há “coisa descartável”. Convém, lembrar, que somos seres
espirituais, corporais e psíquicos, e, precisamos de cuidados em todas estas
dimensões. Ensina Leonardo Boff: “O que opõe ao descuido e ao descaso é o
cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um
momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação,
preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. Logo,
o cuidado é a essência humana. A Mãe-Terra que nos acolhe, como elemento
primordial e latente, clama pela reformulação das atitudes humanas (atitudes
éticas), quais sejam, mais responsabilidade e mais solidariedade.
No
entanto, o que vemos no dia a dia, em muitos casos, no nosso país, é o caminho
inverso (a degradação do ser humano). A natureza humana adulterada, com
dificuldade de se adaptar aos limites da moralidade, da decência e da
honestidade. Levar vantagem em tudo e sobre todos passou a ser a regra (a falta
de ética). Esse comportamento do homem/mulher em família, no trabalho, na política
e na convivência social, revela o descuido e o descaso com o outro. O descaso
com a nossa casa (planeta terra). O ser humano precisa reencontrar seu equilíbrio
(mente, corpo e espírito), e, se cuidar e cuidar do outro.
Caio
Higino nos ensina com sua “fábula-mito do Cuidado” que: “O essencial é
invisível. É o sentimento que torna pessoas, coisas e situações importantes
para nós. Esse sentimento profundo se chama Cuidado”. A pandemia agravou o
conflito íntimo das pessoas. O abandono, a fome, o desemprego e a violência
afloraram. O medo tomou conta de muitos. Comportamentos ilícitos, imorais e
antiéticos passaram a ser corriqueiro na vida de muitos. Por conseguinte, sequelas
psicológicas gravíssimas (ansiedade, depressão, síndrome do pânico, etc.), passaram
a atormentar o indivíduo. Será mesmo que é esse o caminho da vida? É preciso, com urgência, evocar a “cura”, ou
seja, o cuidado!
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